sábado, 26 de janeiro de 2008

Seitas Primitivas

Ebionismo:Os ebionitas (pobres), judeus-cristaos que seguiam a lei de Moisés, mas acreditavam que Jesus Cristo era o Messias, porém achavam que Ele não era o Filho de Deus (apenas um profeta anunciado por Moisés), Os ebionitas subsistiram até o século V, nesse período, dividiu-se em numerosas seitas. O apóstolo João escreveu seu evangelho, refutando essas heresias.Elcasaísmo:Fundador Elxai, recebeu revelação por meio de um livro dado por um anjo, lembrando Maomé (Alcorão) e Joseph Smith (Livro de Mórmon). Aceitavam apenas partes do A.T.Nicolaísmo: Fundador Nicolau (Balaão), era diácono da igreja, seita gnostico-libertina que apareceu em Éfeso e Pérgamo (Ásia Menor), condenava o Deus da criação.Cerintianismo:Fundador Cerinto, acreditava que Cristo não nasceu Deus, mas tornou-se Deus no batismo, quando morreu Deus o abandonou, para recebê-lo na sua 2ª vinda, no final dos tempos.Gnosticismo: Heresia complexa, de elementos filosófico-religiosos orientais e cristãos. O Gnosticismo era composto por vários movimentos sincréticos de tradições religiosas da sua época: o helenismo, o dualismo, cultos de mistério, judaísmo e o cristianismo; enquanto as heresias judaicas estavam apegadas às tradições mosaicas, os gnósticos, pagãos que aceitaram a fé cristã, tentavam introduzir nela, concepções pessoais e teorias filosóficas. Sempre em contínua evolução, mas com um ponto em comum, de que entre Deus e a matéria há uma série de seres que intermediam um contato do homem com a divindade.Gnose (grego) significa "conhecimento ou ciência", pretensiosamente se denominava como ciência de Deus, revelando assim seus mistérios a seus adeptos, herdeiros da ciência mística, base de todas as religiões, assim sendo, a gnose dá o segredo do universo e o segredo da evolução.Seus ensinos são uma verdadeira rebelião contra Javé, o Deus de Israel, sua criação e a sua lei; diziam que Javé era um demiurgo (pequeno deus) inferior, que criou um mundo fracassado. Gnose revelação do Deus autêntico, possibilitando um retorno através de um rompimento com o mundo e a lei divina.Os pontos fundamentais da heresia:a)- Deus, uno e separado (longe), da matéria (seres);b)- A matéria eterna é o princípio do mal;c)- Eões, seres entre Deus e a matéria, juntos formavam o pleroma, afastados de Deus se tornavam imperfeitos. Um deles foi excluído do pleroma : Demiurgo, que criou o mundo e o homem da matéria já existente, produzindo também eões inimigos de Deus.d)- O mal provém da união das almas, mas o homem não é totalmente mal, porque o Demiurgo tirou do mundo espiritual uma centelha divina e colocou-a na matéria, assim sendo, os homens se dividem em três classes: espirituais (espírito-superior-matéria); gnósticos (psíquicos-espírito=matéria); os cristãos (materiais/hílicos-matéria, superior, espírito) – os pagãos.e)- Cristo como espírito emanado, ensina aos espíritos como se libertarem dos seus corpos; uns deixam os seus corpos fazerem o que quiser e outros o mortificam através de penitências. A redenção realiza-se no interior de cada alma, numa identificação com Deus, ou seja, o conhecimento e compreensão do próprio eu. Os relacionamentos Deus-cosmos se dão por antíteses : luz-treva, vida-morte, alma-psiquismo, "divindade como negação do mundo". Nos anos de 105 a 170 da nossa era, a Igreja reuniu vários concílios em combate ao gnosticismo, em nossos dias, as idéias gnósticas ressurgem entre a teosofia e o espiritismo.Primeiras ações gnósticas, surgem na Palestina e na Síria, com o judeu-cristão Cerinto, materialista, que considerava Jesus Cristo um simples homem nascido de José e Maria. Simão Samaritano, o Mago, e Menandro são considerados os fundadores do gnosticismo.Simão, taumaturgo do tempo de Nero, hábil na magia, originou várias lendas; em Atos 8:5-52, ele propôs a Pedro a compra do poder de fazer milagres, desafiou os apóstolos numa demonstração de poder, voando em torno de uma torre, ensinava que o mundo não foi criado por Deus e sim por anjos, para os samaritanos ele era o primeiro Demiurgo.Menandro, discípulo de Simão, era mágico (comum nos gnósticos de Samaria), dizia que os que o seguissem jamais morreriam, se julgava o Salvador.Saturnino, viveu entre 100 e 130 d.C., grande figura do gnosticismo, conferiu a forma definitiva a esta doutrina, achava que o homem foi criado por sete arcanjos.Os barbelognósticos (do siríaco barbá eló, que significa "Deus em quatro", ou seja, contém em si próprio : pensamento, pré-conhecimento, incorruptibilidade e vida eterna) e os sethianos-ofitas.A heresia passou para o Egito (Alexandria), Valentiano e Carpócrates foram seus maiores defensores (tudo que se realiza na matéria é insignificante, do ponto de vista da alma).Basílides organizou a doutrina de Simão o Mago, sintetizando-a (os anjos criadores do mundo, que dividem o domínio do mesmo), um deles é Javé, o deus dos judeus, que submete a si os demais.Os ofitas cultuavam a serpente do paraíso: a serpente que se revelou contra o Demiurgo, e propôs a libertação através do conhecimento (gnóse) e da "ciência do bem e do mal".O marcionismo, do líder cristão Marcião, nascido em 85 d.C., em Sínope, costa do Mar Negro, criou uma nova forma de cristianismo (oposição entre a lei e o evangelho, entre a justiça e o amor), obra : Antítese (perdida), opunha o A.T. ao N.T., (como Lutero iria fazer mais tarde), suas igrejas eram poderosas na mesopotâmia, seu principal opositor, o teólogo Tertuliano, que escreveu o tratado Adversus Marcionem.Principais obras gnósticas, achadas em Nag Hammadi, alto Egito, em 1945, originais em copta, copiadas em grego no século IV, entre os 51 livros achados estão: o Evangelho de Tomé, o Evangelho de Felipe, o Evangelho da verdade, o Apocalipse de Adão, o Livro do Grande Seth e o Apócrifo de João, onde no Gênesis, o Criador (Deus), se apresenta como ignorante e malévolo. Além, é claro, do polêmico Evangelho de Judas. O Bispo Irineu refutou essas heresias, em sua obra "Contra as Heresias".O Montanismo:Apareceu na Frígia (Ásia Menor), de 150 a 157, movimento intelectualista, organizou-se em comunidades; na Ásia Menor, em Roma e na África do Norte, fundador Montano (sacerdote de Cibele), converteu-se ao cristianismo, julgava-se o instrumento do Espírito Santo prometido por Cristo e precursor de uma nova era, Prisca e Maximila suas profetizas. Chamavam a si mesmos de pneumáticos (inspirados pelo sopro do Espírito). Esta seita, anti-romana, se constituía numa ameaça para a paz entre a cristandade e o estado, foi excomungada pela Igreja, mas subsistiu no Oriente até o século VIII.Os Antitrinitários:Teófilo de Antioquia, escritor cristão, em 180 a.C., começa aparecer em seus escritos a palavra "tríade" ou "trindade" (um só Deus em três pessoas), que serviu para explicar o dogma cristão da Santíssima Trindade.Logo surgem os opositores, como o adocionismo, de Teodoto de Bizâncio (rejeitava a Trindade, negava a divindade de Cristo e a encarnação do Verbo), foi condenado pelo papa Vítor I (189-199); em 190 d.C. surgiu outra heresia, iniciada por Noet, que Praxéias e Sabélio, desenvolveram, recebendo o nome de sabelianismo ou monarquismo ou modalistas (para eles o Pai, o Filho e o Espírito Santo, eram apenas três títulos diferentes e não pessoas); assim sendo, o Pai se encarnou na virgem, nascido tomou o nome de Filho, sem deixar de ser o Pai, logo foi o Pai quem morreu na cruz.O Maniqueísmo:Tipo de gnosticismo que começou na Pérsia, na 1ª metade do século III, fundador; Manés (Manion Maniqueu – 215/276), da Babilônia, morreu esfolado porque não curou um filho do rei Behram.Para Manés, que seguia os ensinos de Zoroastro (Zaratustra), há dois reinos eternos : o da luz, em que domina Deus (Ormuzde ou Ahura Mazda), e o das trevas, domínio de Satã (Ahrimã ou Anrô Mainiu). O homem preso por Satã, luta para se libertar das trevas e ir para a luz, liberdade que se alcança por meio de uma vida austera, compreendendo três selos, (mortificações) : o selo da boca (jejum), o selo da mão (abstenção do trabalho) e o selo do ventre (castidade).Existia duas classes : os eleitos (monges) e os ouvintes ou auditores (fiéis); com uma hierarquia de doutores, administradores, presbíteros, diáconos e missionários, rejeitaram o A.T. e expurgaram do N.T. as interpolações judaicas, para adaptar a Escritura aos fins de sua seita.Santo Agostinho, foi conquistado por essa seita, um famoso discípulo de Manés foi Madek (século VI d.C.), que acreditava que o mal do mundo tinha sua causa no desejo de posse da fortuna e das mulheres.Combatida pela Igreja e pelo estado, estendeu-se da África do Norte à China, até a idade média (século XII), surgindo então como doutrina albigense (catarismo).O Donatismo:No ocidente, a partir de 312 d.C., houve um cisma na Igreja, quando surgiu os donatistas. Lucília mulher repreendida por Ceciliano arcebispo de Cartago, porque tinha o costume de beijar um osso (relíquia de algum santo) antes de comungar; por vingança, com sua riqueza e prestígio, organizou um grupo que era contra a eleição de Ceciliano, esse grupo dizia que o bispo Félix de Aptonge, era um traidor da Igreja, sendo um traidor não poderia consagrar Ceciliano.Chefe do grupo, era o bispo Donato, com seu principal, teólogo, outro Donato, daí o nome donatistas, tiveram até tropas de choque (os soldados de Cristo), chamadas pelos católicos de "vagabundos" (circumcelliones).Doutrina donatista: quem peca não pertence mais a Igreja, fora da Igreja não há sacramento, queriam expulsar bispos e padres pecadores, bem como seus fiéis. Condenada nos concílios de Latrão, em 313, e de Arle, em 314, os donatistas tiveram nos imperadores, seus maiores inimigos, no século V, o grande adversário foi Santo Agostinho, bispo de Hipona.Através do Concílio de Cartago (411) estabeleceu-se que "não se sai da Igreja pelo pecado mas somente pela apostasia da fé".O Priscilianismo:Na Espanha, Prisciliano, bispo de Ávila, divulga os ensinos gnósticos e maniqueus, introduzidos pelo monge egípcio Marcos. Em 380, Prisciliano e os seus, foram expulsos e executados pelo imperador Máximo. Porém somente no Concílio de Braga, em 565, é que essa heresia foi condenada.O Pelagianismo:Em reação aos gnósticos e maniqueus, surge o pelagianismo que se tornou uma grave heresia, divulgador Pelágio nasceu em 354 na Inglaterra, moralista e intransigente, dizia que não se precisava da graça para salvação, bastando somente a vontade individual, não existia o pecado original, era contra o batismo, contra a remissão dos pecados, acreditava que se não há pecado original, não há necessidade de redenção, logo Jesus Cristo é inútil.Santo Agostinho, dizia : todos os homens pecaram em Adão, nascem com o pecado original e estão enfraquecidos por ele, mas conservam o livre-arbítrio, portanto é necessário o batismo para reaver a graça.Concílio de Cartago, em 411, condenou o pelagianismo, no Oriente foi declarado ortodoxo, nos concílios de Jerusalém e de Diospolis em 415. Em 431, no Concílio Ecumênico de Éfeso, foi condenado.As questões do pelagianismo são graves do ponto de vista teológico, dando origem a grandes controvérsias que talvez nunca tenham fim.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

“O GOVERNO DO ANTICRISTO E O FALSO PROFETA”




Texto Básico: Ap 13:1-18
Versículo chave:
“Se alguém tem ouvidos, ouça” - Ap 13:9
Fala da aparição das duas bestas: a que emerge do mar e a que emerge da terra. Representam elas o poder tirânico que irá se manifestar logo após o arrebatamento da Igreja naquele dia glorioso para os filhos de Deus.
I – A BESTA QUE EMERGE DO MAR
Ap 13:1-10
Começa o capítulo 13 dizendo o seguinte: “Vi emergir do mar uma besta que tinha dez chifres, dez diademas e, sobre as cabeças, nomes de blasfêmias”.
1. “Emergir do mar” significa sair do meio das nações. Muitas vezes a Bíblia se refere aos povos e nações em linguagem figurada, usando o mar para representá-los. Conclui-se que vai surgir um grande chefe político que comandará uma “Confederação de Reinos”, representada pelos dez chifres, que na profecia de Daniel é representada pelos dez dedos da estátua sonhada por Nabucodonosor (Dn 2).
2. Chifres, na Bíblia, significa poder, autoridade. Sendo assim, cada governo da Confederação de Reinos terá poder na área de seu domínio, porém haverá, quem sabe, na área econômica, um poder central. Cremos que a profecia está caminhando para seu cumprimento, pois é sabido que existe um plano estabelecido para a unificação da Europa (área do antigo Império Romano) e de fato já existe lá uma só moeda – o euro.
3. As sete cabeças representam as sete colinas de Roma, bem como sete reis (Ap 17:9). Será, portanto, em Roma a sede do governo do Anticristo.
4. Os diademas representam o poder dos governantes confederados que estão subordinados economicamente à besta. O interesse e propósito destes governantes é dar à besta toda autoridade, e tudo farão para que isso aconteça.
5. A ferocidade da besta é representada pelo leopardo, urso e leão (v.2). Esta descrição representa os três impérios anteriores que foram inseridos no antigo Império Romano – grego, persa e babilônico.
a. Grego: representa o leopardo (Dn 7:6), rápido, veloz, conquistador e incansável. O anti-cristo terá essas qualidades em grau supremo.
b. Persa: os pés do urso (Dn 7:5), dando as idéias de força, estabilidade e consolidação. O anti-cristo também incorporará esses aspectos em seu poder.
c. Babilônico: A boca de leão (Dn 7:4), subentendendo ruína ameaçadora, rugidos de blasfêmias, despedaçamento carniceiro, perseguições e matança. O anti-cristo será o possuidor supremo dessas qualidades.
6. A cabeça golpeada de morte e sua cura (v.3) falam da queda do antigo Império Romano e sua ressurreição, quando será governado pelo anticristo (a “besta”).
7. Um governo sob o poder satânico (v.4). O dragão mencionado é o diabo, sedutor das nações (Ap 20:10).
8. 42 meses (v.5). Esta referência fala do tempo em que a besta vai exercer seu poder tirânico. Estes 42 meses representam os três anos e meio da última semana de Daniel (Dn 9:27).
9. O Anticristo (vs.6 e 7) tudo fará para apagar o nome de Deus dentre os homens. Moverá perseguição àqueles que se converterem no período da tribulação (Ap 7: 13-17).
Eis, portanto, a descrição que o apóstolo João recebeu do Senhor a respeito das coisas que “hão de acontecer”. Haverá, pois, o surgimento de uma confederação de Reinos, cujo chefe supremo será a besta que há de emergir do mar.
II – A BESTA QUE EMERGE DA TERRA
Ap 13: 11-18
O verso 11 começa com a seguinte expressão: “Vi ainda outra besta emergir da terra; possuía dois chifres, parecendo cordeiro, mas falava como dragão”. Trata-se de um personagem que aparecerá imitando a Cristo (o Cordeiro de Deus). Porém sua fala é de origem diabólica (dragão). Os dois chifres representam um duplo poder político-religioso. Deverá surgir da terra de Israel. Trata-se do falso profeta (Ap 19:20). Este estará ligado à besta que emergiu do mar e tudo fará para que sua autoridade seja mantida. No v.12 lemos o seguinte: “Exerce toda a autoridade da primeira besta na sua presença. Faz com que a terra e seus habitantes adorem a primeira besta, cuja ferida mortal fora curada” (Império Romano restaurado).
Será nesta época que se cumprirá o que o Senhor Jesus predisse em Mt 24:15. No templo restaurado no local daquele que Salomão construiu, será introduzida pelo falso profeta a imagem do Anticristo (a primeira besta) para adoração. Os vs. 13 a 15 bem falam destes acontecimentos previstos. Será nestes dias de imposição que se cumprirá o que Zacarias registrou em sua profecia (Zc 12:10). O Senhor derramará espírito de graça e de súplica sobre os judeus (habitantes de Jerusalém) para que se convertam Àquele que traspassaram um dia quando clamaram: “Crucifica-o! Crucifica-o!” (Lc 23:21).
Os vs 16 e 17 falam de um cadastramento que haverá, quando será exigido de todos, para comprar e vender, que recebam o sinal da besta, na mão ou na testa. Muitos irão rejeitar esta imposição. Por isso serão perseguidos e mortos (Ap 7:9-17).
III – O NÚMERO DA BESTA
Ap 13:18
Muito se fala sobre o número da besta, que é 666. O número 7 na Bíblia representa perfeição e o número 6, imperfeição. 666 fala de uma trindade imperfeita: o dragão, o Anticristo (primeira besta) e o falso profeta (segunda besta).
O mundo, por um período de tempo (sete anos), estará sob o domínio do mal. Não podemos fazer afirmações precipitadas quanto a este personagem que terá como número de sua identidade o 666. Mas isto é certo: aparecerá este chefe político-religioso na face da terra. Virá o Império Romano restaurado (Dn 9:26). Perseguirá Israel e matará suas duas testemunhas (Ap 11:7). Finalmente será destruído (II Ts 2:8).
Queremos mais uma vez enfatizar o fato de que quando estas coisas acontecerem, nós, como Igreja do Senhor Jesus Cristo, já estaremos em Sua gloriosa companhia, desfrutando das bodas do Cordeiro.
PAZ SEJA CONVOSCO

sábado, 5 de janeiro de 2008

O ALCORÃO CONTÉM FUNDAMENTOS CIENTÍFICOS QUE PROVAM QUE ELE FOI INSPIRADO POR DEUS?




Afirma-se que há certos processos científicos descritos no Alcorão que não eram conhecidos no tempo de Maomé e sua presença prova que o Alcorão foi divinamente inspirado. Versos foram tomados fora do contexto e traduções foram torcidas para tentar provar esses pontos. Por adição, livros de ensino padrão escritos por cientistas do ocidente foram republicados na Arábia Saudita com passagens do Alcorão neles inseridas em certos pontos para dar a impressão que o Alcorão descreveu acuradamente algo que não fora descoberto até recentemente. O resultado é que a maioria do povo aceita essas reivindicações como certas, já que não sabem o bastante ou sobre o verdadeiro significado do árabe ou sobre possíveis fontes dos fatos científicos na época de Maomé.
Exemplos dessas reivindicações inclui versos que falam sobre a queda da chuva, e outros que dizem que há água no subsolo; conclusão: o Alcorão está descrevendo o ciclo das águas. Uma comparação com versos da Bíblia mostra que as mesmas idéias já circulavam muito antes de Maomé. Um outro verso é o que reivindica que as montanhas são como presilhas que evitam que a terra se mova. São citados geólogos que dizem que as montanhas têm "raízes" no subsolo que sustentam a terra no lugar, quando na realidade longe de evitarem terremotos, diz-se atualmente que as montanhas se elevam como um resultado da atividade sísmica.
A maioria, talvez, dos escritos dos muçulmanos nesse assunto se refere ao desenvolvimento do embrião humano. Muitos versos descrevem como nos originamos de uma gota de sêmen que irrompe pelo corpo (Sura 53,46 de "entre a coluna vertebral e as costelas"; v. tb. Sura 86,7). Os muçulmanos reivindicam que a idéia totalmente falsa de que o esperma é produzido em algum lugar na região da coluna vertebral corresponde ao lugar do desenvolvimento embriológico, apontados pelos testes, que está próximo aos rins - embora não haja possibilidade dessa interpretação em seu contexto. De fato, o médico grego Hipócrates ensinava, 1.000 anos antes de Maomé, que o sêmen passa através da região dos rins e da espinha. Outros versos dizem que nós nos desenvolvemos em quatro estágios: uma gota de sêmen, um coágulo de sangue, um pedaço de carne informe e um estágio no qual os ossos são revestidos com carne (Sura 22,5; Sura 23,13). Tentando identificar pontos precisos do desenvolvimento humano a que se referem esses estágios, cientistas muçulmanos negligenciaram totalmente o fato de que Galen, escrevendo a Pérgamo, na Turquia, (Ap 2,12), no ano 150 dC, diz que os humanos crescem através desses quatro estágios de desenvolvimento. Outros exemplos poderiam ser dados do Alcorão e do Hadith (ditos de Maomé) que têm sido torcidos para tentar mostrar que eles dizem coisas que só foram descobertas recentemente. O único caso que foi conclusivamente demonstrado foi que essas coisas originalmente ensinada pelos gregos antigos eram bem conhecidas entre os povos árabes no tempo de Maomé. Longe de provar que o Alcorão é divinamente inspirado, elas apresentam evidência adicional que ele teve origens humanas.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

A história do Islã





O estudo das divisões dinásticas e políticas convencionais do Islã permite retratar como os muçulmanos, ao longo de 14 séculos, conquistaram novos povos e construíram uma civilização e religião internacional.
O Islã foi fundado no século VII da era cristã, na Arábia, por Maomé, como uma religião monoteísta que enfatiza a adesão rigorosa a certas práticas religiosas. A religião muçulmana, assentada na escritura sagrada, o Alcorão, converteu-se numa força unificadora de diversos povos, a partir do elemento original árabe. O império que se formou em virtude da expansão muçulmana pelo Oriente e Ocidente não foi apenas árabe, tampouco teve uma tendência religiosa única. Apesar de criadas diversas facções e seitas, o sentimento de coesão do mundo muçulmano não diminuiu. Essa coesão baseou-se no monoteísmo e na prática religiosa, regedora também da vida civil e da justiça, e principal impulsionadora da expansão territorial, da pregação e da guerra santa.
Arábia pré-islâmica. A península arábica, um grande planalto desértico cercado por cadeias de montanhas e coberto de areia, impôs condições geográficas duras às populações árabes pré-islâmicas, que se adaptaram de forma dispersa e variada. A diferença de clima entre o norte e o sul constituiu fator fundamental para determinar as condições de vida. No sul, as monções (ventos sazonais) procedentes do oceano Índico favoreciam a agricultura. Enquanto isso, no norte e no centro da península, as grandes extensões desérticas e as estepes impediam o cultivo, a não ser nos oásis, e impunham a seus habitantes uma vida nômade.
Alguns oásis na região do Hedjaz deram origem a cidades como Yathrib (a Medina islâmica) e Meca, na rota das caravanas entre a Índia e o Ocidente. A grande maioria da população era composta de tribos independentes de beduínos nômades, cada uma das quais sob o comando de um xeque. No povo árabe, distinguiam-se tradicionalmente dois grupos rivais: os árabes do sul, ou iemenitas, descendentes de Abraão por Qahtan e sedentários, e os árabes do norte, nizaritas, descendentes dele por Ismael e nômades. Esses grupos dividiram-se em muitos ramos, mas mantiveram sua rivalidade.
O sul da Arábia conheceu diversas culturas a partir do século IX a.C., quando floresceu o reino de Mineu. O reino de Sabá criou a lenda da proverbial riqueza da Arábia, baseada no comércio de materiais preciosos com a Índia. A região norte, por sua vez, teve um desenvolvimento mais tardio. A sociedade, fundamentalmente tribal e nômade, constituía-se de ricos cameleiros, que viajavam seguindo rotas determinadas, e de pastores de ovelhas pobres. Outros nômades foram-se estabelecendo de forma sedentária e pagavam tributo aos beduínos do deserto para assegurar sua proteção. Esses grupos, entretanto, não estavam organizados em unidades políticas superiores e viviam em constante confronto. As hostilidades só se amenizaram em virtude das tréguas religiosas e de uma espécie de código de honra estabelecido com base na vingança.
Os habitantes das cidades prosperaram economicamente em comparação com os nômades. Meca desenvolveu-se como centro do comércio entre o oceano Índico e o mar Mediterrâneo. Também estabeleceram-se na cidade criadores de gado, e surgiram diversas atividades vinculadas às comunicações e à passagem de caravanas. Nas regiões de fronteira com a Síria, algumas tribos árabes emigraram em direção ao norte, onde organizaram vários estados. Exemplos deles são o dos nabateus, cuja escrita daria origem ao árabe; o dos gassânidas, relacionados com Bizâncio como guardiães da fronteira sírio-palestina; e o reino de Hira, na fronteira mesopotâmica, submetida ao império persa sassânida. Os súditos deste último reino viriam a desempenhar importante papel na conquista árabe. Converteram-se imediatamente ao Islã e, graças a sua boa organização militar, contribuíram para a vitória dos exércitos árabes. Até o fim do século V, tentou-se unificar as tribos da Arábia central. O reino de Kinda, de curta duração, representou um esforço pela união política.
Os árabes da península adotavam uma religião politeísta, com divindades locais ou tribais, em muitos casos de caráter astral, e que para eles viviam em pedras sagradas (abadir). Os habitantes de Meca possuíam também uma deusa da felicidade e outra do céu e, acima delas, Alá (Deus), que no século VII era o Senhor do Templo, ou da Caaba, em Meca. No século IV, Alá deixara de ser o único deus para os seminômades das estepes sírias.
Maomé e o estabelecimento do poder islâmico. Maomé, que de acordo com a tradição nasceu por volta do ano 570, era membro do respeitado clã Hachim, da tribo dos coraixitas. Órfão e sem recursos, foi educado por um tio. Aos 25 anos, casou com a viúva Cadidja, para cujo serviço havia sido contratado. Após a morte de Cadidja, Maomé teve outras 18 esposas e consumou o casamento com nove delas. Segundo a tradição, o profeta, aos quarenta anos, teve uma visão do anjo Gabriel e soube que Alá o tinha escolhido para ser seu enviado e pregar sua palavra. As revelações de Alá a Maomé foram mais tarde reunidas no Alcorão (que significa "recitação"). No princípio, o profeta encontrou obstáculos para a pregação em sua cidade natal, entregue ao paganismo, e foi obrigado a emigrar para Medina: a chamada hégira (emigração, separação) marcou o início da era islâmica, em setembro do ano 622.
Em Medina, Maomé transformou-se em chefe teocrático e substituiu as antigas organizações tribais pela ummah, ou comunidade de crentes, fundamentada no vínculo religioso. Dois anos depois, a vitória na batalha de Badr, entre os habitantes de Meca e Medina, foi para Maomé uma prova de que Alá estava do seu lado. O prestígio de Maomé cresceu e, após uma campanha para expulsão dos judeus de Medina, o profeta se tornou senhor absoluto da cidade. Em 630, entrou em Meca e conseguiu a rendição pacífica dos chefes coraixitas. O apoio dos habitantes de Meca foi definitivo para a consolidação do novo poder. A expansão do Islã iniciou-se com uma primeira campanha militar contra a Síria. Antes de morrer, em 632, Maomé conseguiu impor sua autoridade a grande parte da Arábia.
Primeiros califas. Maomé não deixou herdeiro varão nem estabeleceu regras a respeito de sua sucessão. Tudo isso engendrou uma crise política que se resolveu com a eleição, como primeiro califa, de Abu Bakr, encarregado por Maomé de dirigir a oração. Antes de morrer, Abu designou seu sucessor, Umar, que foi assassinado dez anos mais tarde, em 644. Depois dele, Uthman, da dinastia omíada, ocupou o califado até 656, ano em que foi assassinado. Finalmente, Ali, primo e genro de Maomé, assumiu o poder.Com os quatro primeiros califas, o Islã iniciou sua expansão. Primeiro, conseguiu a pacificação da península arábica e a eliminação dos falsos profetas. O principal objetivo das conquistas muçulmanas eram a pregação e a propagação da fé. Síria, Mesopotâmia, Pérsia, Egito e Cirenaica foram as primeiras regiões conquistadas. Realizaram-se também incursões na Anatólia, nas ilhas do mar Egeu, no norte da África e na Armênia. A conquista árabe não seguiu um plano estratégico de grande alcance; foi antes um movimento natural das tribos árabes acostumadas ao nomadismo -- e agora também levadas pelo desejo de converter os povos à nova fé --, em direção aos territórios habitados por populações agrícolas e sedentárias.
Califado omíada. A dinastia omíada começou em 661, com Moawia I, e terminou em 750. A capital mudou de Medina para Damasco, onde os omíadas criaram uma autêntica realeza árabe ao adotarem o princípio dinástico, pelo qual, antes de morrer, cada califa designava como herdeiro seu filho -- o que rompia a tradição dos primeiros sucessores de Maomé. Os omíadas transformaram a antiga organização tribal em monarquia centralizada. O sistema administrativo e fiscal que instauraram propiciou um grande enriquecimento do império e favoreceu a islamização, pois os súditos não muçulmanos dos territórios anexados tinham que pagar impostos maiores que os convertidos à nova fé. A dinastia omíada impulsionou a arquitetura muçulmana e criou as grandes mesquitas de Damasco, Medina e Jerusalém.
O império muçulmano do primeiro século da hégira era fundamentalmente árabe e estava unido pela revelação corânica. Os omíadas integraram os sírios convertidos e permitiram que participassem da organização estatal. O povo conquistado aprendeu rapidamente o árabe -- que chegou a ser sua língua oficial -- e converteu-se ao Islã (muitos eram cristãos).
Durante os cem anos que durou a dinastia omíada, os califas tiveram que enfrentar inúmeras dificuldades de ordem interna. Além do antagonismo entre a Arábia do norte e a do sul, lutaram contra os caridjitas e contra um partido que agrupava muitos descontentes que pretendiam devolver o centro do poder à Arábia. Mesmo assim, criaram as bases da grande civilização muçulmana. Nesse período, começaram a desenvolver-se as ciências jurídicas e teológicas, que, mais tarde, durante a dinastia abássida, alcançariam seu esplendor máximo.
No que se refere à expansão das fronteiras do Islã, os omíadas conseguiram a maior extensão territorial alcançada pelo império muçulmano. Chegaram à Tripolitânia, conquistaram o Maghreb e dominaram o norte da África entre os anos 697 e 707. Invadiram e conquistaram a península ibérica e chegaram à França, onde foram detidos na batalha de Poitiers por Carlos Martel, em 732. No Oriente, conseguiram dominar Pérsia, Afeganistão, Transoxiana e o Turquestão chinês e penetraram pelo norte da Índia em Sind, Punjab e Ode. O Islã, nessa época, estendia-se das fronteiras da China ao oceano Atlântico. O povo árabe, praticamente desconhecido na antiguidade, havia imposto seu domínio sobre uma enorme extensão geográfica e transmitido aos povos conquistados sua religião e sua língua.
Nas províncias imperiais, os cristãos e judeus eram considerados cidadãos de categoria social inferior em relação aos muçulmanos, mas reconhecidos como crentes e chamados "povos do Livro", noção que abrange todos os povos detentores de uma escritura sagrada. Por extensão, incluíram-se entre eles os zoroastristas da Pérsia. Os súditos não eram obrigados a converter-se ao Islã, mas apenas a submeter-se ao direito penal e civil islâmico. Os conflitos internos que afetaram diretamente o califado omíada deveram-se fundamentalmente ao confronto com as tendências que condenavam o abandono das primeiras tradições do Islã. Nesse contexto, os xiitas organizaram-se como um forte grupo de oposição ao poder omíada, por eles considerado ilegítimo. Os primeiros califas souberam enfrentar esses movimentos.
Em 680, Yazid I sufocou a rebelião de Hussain, filho de Ali, que foi transformado em mártir pelos xiitas. Depois do califa Walid I (705-715), que levou o império a sua expansão máxima, as desavenças se agravaram e o poder da dinastia declinou. Os rebeldes de Khorasan e do Iraque conseguiram vencer a dinastia omíada em agosto de 750, quando foi derrotado o califa Marwan II. Apenas um dos membros do império, Abd al-Rahman I, conseguiu fugir e fundou a dinastia omíada de Córdoba, na Espanha. Abu al-Abbas proclamou-se o novo califa.
Califado abássida. A dinastia abássida mudou a sede do império para o Iraque e situou a capital em Bagdá. Os abássidas, e o importante contingente de persas em que se apoiavam, transformaram-se em restauradores da tradição islâmica, supostamente traída pelos omíadas. Reforçaram o poder teocrático do califa e deram mais pompa ao cerimonial da corte. O êxito da conspiração que havia levado a dinastia ao poder determinou, nos primeiros tempos, uma atitude tolerante quanto à diversidade de elementos étnicos e culturais que sustentava. O califado sofreu grande influência da civilização persa, que adotou o sistema muçulmano em suas estruturas e regras, de modo bastante superficial. Em consonância com a tradição persa, o direito divino do monarca fortaleceu-se e o sistema político islâmico alcançou seu perfil definitivo. O novo califado assumiu o papel de defensor da fé, mais forte e menos questionado, já que não existia uma hierarquia religiosa reconhecida.
A designação do califa assegurava-se, em princípio, pela escolha de um herdeiro entre seus filhos. A época de esplendor correspondeu ao reinado de Harun al-Rashid, no período compreendido entre os anos 750 e 833. Bagdá transformou-se em importante centro cultural, o que representou o desenvolvimento pleno da civilização cortesã e urbana do Islã. As ciências e as letras passaram por extraordinário desenvolvimento, e muitas vezes incorporaram aspectos de outras culturas, como a indiana, a greco-latina e a persa. Também prosperou a atividade econômica, baseada na manufatura de sedas, tapetes, telas bordadas e papel reciclado de tecido (técnica proveniente da China), e nas transações comerciais entre Oriente e Ocidente.
A criação dos vizirados, no período anterior, possibilitara uma certa descentralização do poder imperial concentrado no califa, que passou a contar com emissários e delegados. O testamento de Harun al-Rashid estabeleceu a ordem de sucessão ao trono e abriu caminho à divisão efetiva do império. Após sua morte, em 809, as ambições pessoais fracionaram o Islã em principados mais ou menos autônomos. A luta entre dois dos filhos de Harun al-Rashid levou ao assassinato do califa al-Amin, de linhagem árabe, em 813, e conduziu ao poder al-Mamun, de mãe persa.
Com o reinado de al-Mamun, os árabes desapareceram da cena política. Prevaleceu ainda mais a influência dos persas, e sua cultura impregnou todos os aspectos da vida de Bagdá. Também foi ganhando importância o número de soldados turcos recrutados na Ásia central para o exército islâmico. Esses mercenários tiveram influência ainda maior que a dos árabes, a ponto de modificar o poder político do Islã. Os mercenários turcos da guarda do califa e seu chefe, o "emir dos emires", governaram Bagdá mas permitiram que o califa mantivesse seu prestígio espiritual.A esse avanço do poder turco no império somaram-se as tensões sociais provocadas pelo desequilíbrio resultante do desenvolvimento econômico desigual. As classes baixas, afundadas na miséria, aderiram aos programas extremistas das seitas xiitas, que provocaram diversas revoltas nos dois últimos anos do século IX e nos primeiros do século X. A devastação da Síria e do Iraque por parte dos bandos chamados cármatas e a sublevação de camponeses e artesãos propiciaram a constituição do estado de Bahrein, cujas tropas conseguiram apoderar-se de Bassora e Kufa, e em 930 saquearam Meca.
No século X, apareceram principados independentes e acelerou-se a fragmentação do império abássida. O emirado andaluz, fundado em 756, transformou-se em califado independente em 929. Os reinos do Maghreb tornaram-se praticamente autônomos e, no Oriente, criaram-se diversos estados iranianos no Khorasan. No Egito e na Síria, também se formaram estados independentes. Durante o século X, cada uma das grandes famílias do Islã criou um reino: o califado omíada consolidou-se em Córdoba; os descendentes do califa Ali e de Fátima (filha de Maomé) instalaram-se no Egito; e, em Bagdá, a dinastia abássida manteve-se até 945, quando caiu sob o poder de Ahmad al-Buye, um xiita das montanhas iranianas. Seu sucessor conseguiu apossar-se de um império que compreendia dois terços do Irã e a Mesopotâmia. A dinastia dos buáiidas desapareceu com a chegada dos turcos seldjúcidas em 1055.
Califado omíada de al-Andalus. A Espanha muçulmana era uma província independente desde o estabelecimento do poder abássida. O último omíada, Abd al-Rahman I, fugiu da matança de sua família em Damasco e refugiou-se na península ibérica, de onde, com a ajuda dos berberes e dos árabes da Síria, apoderou-se de Córdoba em 756 e dominou a maior parte do país. Em 929, o emirado foi transformado em califado por Abd al-Rahman III. Durante seu reinado, os povos cristãos do norte sofreram sangrentas derrotas, ao tentarem reconquistar o território.
No fim do século X, os muçulmanos espanhóis lançaram expedições devastadoras sobre Barcelona, Leão, Santiago, Zamora e Coimbra. Ampliou-se o domínio do califado, e Córdoba conheceu enorme esplendor, que se manteria durante o século seguinte. As tradições sírias permaneceram vivas, e a refinada cultura cordobesa rivalizou com a de Bagdá. A destruição do califado de Córdoba foi conseqüência de diversas questões relacionadas com o progressivo enfraquecimento do poder. Em 1031, foi destituído o último califa omíada. A Espanha muçulmana dividiu-se em reinos de taifas (facções). Ao longo dos séculos XI e XII, almorávidas e almôadas, povos do norte da África, vieram em auxílio desses reinos, que sucumbiram progressivamente ante o avanço da reconquista cristã. O último reduto muçulmano foi o reino nazarita de Granada, que caiu em 1492 em poder dos reis católicos, Fernando e Isabel.
Poder seldjúcida. Em meados do século XI, iniciou-se uma mudança decisiva no mundo islâmico: os turcos seldjúcidas, convertidos à ortodoxia muçulmana dos sunitas, reunificaram durante algum tempo o Oriente Médio. Formavam um conjunto de clãs estabelecidos, nos séculos anteriores, ao longo das fronteiras ocidentais da China. Alguns deles permaneceram dentro das fronteiras do império islâmico e, após converterem-se, iniciaram campanhas de penetração em direção ao Ocidente e ao Oriente, contra os gaznévidas, que haviam islamizado a Índia.
Togrul Beg avançou sobre o Irã e a Anatólia para atacar o império bizantino. Penetrou pelo sul no Iraque, cuja capital, Bagdá, ocupou em 1055, e se fez reconhecer como sultão e protetor do califa. Os três grandes sultões seldjúcidas, Togrul Beg, Alp-Arslan e Malik-Xá, ajudados pelo vizir persa Nizam al-Mulk, deram a seu império uma organização política e social que serviria de modelo a todo o oriente islâmico. Além disso, transformaram-se em defensores da ortodoxia muçulmana sunita. Invadiram a Anatólia e estabeleceram-se na Síria e Palestina, até que os cruzados cristãos fundaram principados na região.
O império seldjúcida dividiu-se, com a morte de Malik-Xá, entre seus filhos e irmãos. Os governadores locais tornaram-se independentes e fundaram dinastias locais na Síria, Mesopotâmia, Armênia e Pérsia. Na luta contra os cruzados, destacaram-se sobretudo os aiúbidas do Egito, cujo califa, Saladino, apoderou-se de Jerusalém em 1187.
Império mongol. A invasão das tropas mongóis acabou definitivamente com o califado de Bagdá, aparentemente mantido durante o império seldjúcida. Em meados do século XIII, o império mongol, fundado por Gengis Khan, penetrou em território muçulmano, depois de haver unificado a Mongólia e iniciar a conquista da China. Os mongóis derrubaram os príncipes dos reinos islâmicos: Bagdá caiu em 1257, e Alepo e Damasco, no ano seguinte. O califa e sua família foram assassinados.
Os mongóis toleravam diversas religiões, como o paganismo, o budismo, o cristianismo e o nestorianismo. Isso permitiu-lhes fazer alianças com os cruzados contra o último reduto do Islã no Oriente: os mamelucos do Egito, que, sob o comando de Baibars, haviam dado proteção aos descendentes do califa. Baibars derrotou os mongóis e tornou-se sultão do reino da Síria e do Egito. No fim do século XIV, o império mongol dividiu-se em várias dinastias locais. Mais tarde, foi aniquilado por um turco muçulmano, Tamerlão (Timur Lang), que tentou reconstruir a unidade política da Anatólia e revitalizar o islamismo sunita. Dominou a Índia, a Síria e a Anatólia, mas seus descendentes não conseguiram manter o império, que ficou reduzido à parte oriental do Irã.
Impérios do deserto. Nos séculos XI, XII e início do XIII, o Maghreb esteve sob o domínio de grandes tribos berberes de tendência sunita: os almorávidas, nômades do Saara originários de uma seita guerreira, e os almôadas, sedentários das montanhas. Esses povos se estabeleceram firmemente em boa parte do norte da África ocidental e na península ibérica. Os almorávidas se constituíram a partir das pregações do missionário muçulmano Abdala ibn Yasin, que preconizava extrema disciplina, baseada na oração e na formação religiosa e militar para a guerra santa. Após um período de lutas, sua doutrina ganhou as tribos do oeste do Saara. Os almorávidas consideravam-se defensores da ortodoxia islâmica e chegaram a conquistar o norte da África e Andaluzia (al-Andalus, como era chamada a Espanha muçulmana). O movimento desses grupos forneceu as bases para a criação do reino do Marrocos, com a fundação de Marrakech, em 1072.
Nas montanhas do Atlas, Ibn Tumart iniciou um movimento religioso e, ao agrupar seus partidários contra os almorávidas, organizou a luta armada para conseguir dominar o Maghreb. Sob o comando de Abd al-Mumin, os almôadas apoderaram-se de Marrakech e estenderam seu domínio a toda a região berbere e andaluza. Abd al-Mumin proclamou-se califa -- o que não se atreveram a fazer os almorávidas -- de modo a reconstituir uma comunidade religiosa com grande organização política. O califado desapareceu em meados do século XIII com o surgimento dos reinos de Túnis, Tlemcen e Fez. A derrota imposta pelos cristãos espanhóis sobre os almôadas, na batalha de Las Navas de Tolosa (1212), acelerou o processo interno de desmembramento.No princípio do século XV, os cristãos atravessaram o estreito de Gibraltar.
Os portugueses estabeleceram-se em Marrocos, e o exército do imperador Carlos V chegou a Túnis. Ao mesmo tempo, ocorria uma retirada cristã no Oriente, em virtude da tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos, em 1453, e sua posterior expansão pelos Balcãs.
Império otomano e a origem do mundo islâmico moderno. Seis séculos durou o império otomano, que representou o estado muçulmano mais importante da era moderna. Os otomanos, originários do noroeste de Anatólia, estenderam seu poder até a Europa, dos Balcãs à Síria, Egito e Iraque. A partir do século XVIII, sua decadência começou a se manifestar, apesar de tentativas isoladas de revitalizar o império, cada vez mais debilitado. As regiões européias sob domínio otomano foram se tornando independentes: Grécia, Sérvia, Bulgária etc. O Egito libertou-se também e, sob o comando de Mohamed Ali, reorganizou sua estrutura administrativa em moldes ocidentais; o país obteve a independência com o apoio britânico e conquistou o Sudão. Mesmo assim, a abertura do canal de Suez limitou essa independência, devido ao interesse das potências européias pela atividade comercial naquela região. A França conquistou a Argélia e estabeleceu um protetorado em Túnis. A Itália conquistou a Tripolitânia. As províncias orientais do império otomano desmembraram-se. A Índia, parcialmente islamizada, foi dominada pelo Reino Unido no século XIX, e o Irã sofreu invasões de russos e britânicos.
Após a primeira guerra mundial, os nacionalismos islâmicos se acentuaram. A Turquia passou por profunda transformação, convertendo-se em república laica. O Egito deixou a condição de protetorado britânico em 1922 e, ao longo do século XX, muitos outros estados surgiram no mundo islâmico. A abundância de petróleo em diversos países árabes reforçou o papel da civilização islâmica no mundo, sobretudo a partir da segunda metade do século XX. A descolonização da Síria, Líbano e de várias nações do norte da África, além da oposição dos países árabes à criação do Estado de Israel na Palestina, contribuíram para desenvolver a solidariedade do mundo islâmico. Assim mesmo, a unidade panislâmica encontrou obstáculos na consolidação de nacionalismos locais e na permanência de choques entre xiitas e sunitas.